MAR IGNÓBIL

MAR IGNÓBIL
LIVRO LANÇADO EM 2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Complexo de Atlas

Sísifo, ao deixar pedra rolar
para o mesmo ponto abaixo da montanha,
enganava a morte, e ao lar
volvia a recomeçar mesma sanha;
jamais punha a pedra sobre os ombros,
nem mesmo de seu peso reclamava,
para agüentar o mundo e seus desassombros
preferia mão livre para clava;
mas Atlas ao contrário suportava
nas costas todo peso deste mundo,
por ser gigante de uma força extraordinária.
Um dia, descansado, Sísifo lhe disse
que iria deixar pedra rolar
para lado diverso da montanha,
talvez mais belo quem sabe do que o da casa,
mas Atlas implorou não fizesse isso,
pois isso ia causar desequilíbrio
na ordem do planeta sob os seus ombros,
e o mundo cairia, viraria escombros;
mas Sísifo no olhar de Atlas viu engodo,
e súbito a pedra caiu ao outro lado,
para que, sem a sina, enfim o gigante
aceitasse seu mundo como acabado.
Sem mundo o gigante ficou transtornado,
sua ira foi imensa, mas estava só;
Sísifo fora embora mudara de casa,
mas perto estava Prometeu acorrentado;
que ao ver o abutre devorar seu fígado,
não parecia infeliz, nem resignado;
Atlas aproximou-se, ofereceu ajuda,
mas Prometeu não quis ser desacorrentado,
pois ao roubar o fogo tivera o castigo
de o mundo libertar de todo e qualquer jugo,
mesmo de todo seu peso ter sobre os ombros
de um gigante forte, porém muito burro.

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