MAR IGNÓBIL

MAR IGNÓBIL
LIVRO LANÇADO EM 2010

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Sejamos

as circunstâncias integradoras de um vazio sem margens
o gelo se derrete na tentativa de ser rio e fugir da nascente
não há como voltar ao seio das pedras desfeitas
em seixos grosseiros com arestas pontiagudas
fincadas nos estuários afluentes vindos do mistério
avolumar as variáveis na criação de redemoinhos
para só um braço ficar de fora e ser pego por outra mão.

melhor não entrar no rio em dia de chuva com enchente
represar é mais seguro, mesmo assim pode haver naufrágio
na canoa furada da vagina de alguma mulher – Iara!

mas dias de enchente são inevitáveis nublados e com sol
os corpos dos amantes atiram-se nas margens e limites
das curvas onde as mãos andam mais que os pés
porque não se tem os melhores prazeres da vida com
os pés no chão, mas é impossível ficar ao sabor das águas
sem pisar na terra em momento algum, sem sentir o peso
da gravidade que nos prende ao solo em segurança e queda...

somos o que possuímos, mas os bens escassos deixados
são as migalhas dos labores dos antepassados prolíficos
disputadas pelos tios-avós, primos e filhos dos filhos,
ter que ser é um conflito genérico, há medo do trabalho
sustentáculo contra tentáculos dos polvos familiares
pulsátiis como vasos vicariantes, afluentes alimentados
pelo leito do rio onde insistem em desembocar sugando
águas, dedões dos pés, falanges, falanginhas, falangetas,
cabelos onde agarrarem-se, carne para matar a fome,
sangue para transfusão mais de ser que ser o ser de não

estar fora do caneiro do rio e nem fora de si mesmo
com medo putativo das dores boas do enlace amoroso.

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