Se acaso a ventania me quiser levar;
(me deixe ir
na manhã de inverno, na bruma da noite fria;
(me deixe ir...
meu corpo anda gelado como mar antártico
para ser tragado pela ventania; me deixe ir...
antes que a ventania traga novas caravelas;
( me deixe ir...
em válvulas de escape o navio fez água;
( me deixe ir...
amor! Ah! Não tragas mais as ondas do verão
teus braços na enseada não oferecem porto;
num trago de cigarro virei névoa fria; e os olhares
vis são como os punhais, que quebram todos vidros
das vãs escotilhas e rasgam anteparas de todos
( conveses.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir...
mesmo se a primavera revolver o sangue
em buganvílias hemorrágicas sobre os muros dos jardins,
a flor continuará a ser mera ferida.
no mar não há raízes, cabelos, cicatrizes nem as ilhas
que o oceano quis isolar dos homens e do mundo.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir
o outono está distante e é uma angra de montanhas
que demora e exige demais para quem deseja partir
agora, sozinho, sem levar ninguém a nenhum
( naufrágio.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir
nas quatro latitudes encontrarei jazigo, me deixe ir...
Em tempo: Sidney Mattos ( meu parceiro num samba e irmão-amigo), junto com Augusto Magalhães, falecido nos anos oitenta do século xx de morte natural, um dia fizeram a música que começava com o verso Se acaso a ventania me quiser levar..., letra e música se perderam no esquecimento...
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