MAR IGNÓBIL

MAR IGNÓBIL
LIVRO LANÇADO EM 2010

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ventania ou Canto do jovem suicida

Se acaso a ventania me quiser levar;
(me deixe ir

na manhã de inverno, na bruma da noite fria;

(me deixe ir...

meu corpo anda gelado como mar antártico

para ser tragado pela ventania; me deixe ir...

antes que a ventania traga novas caravelas;

( me deixe ir...

em válvulas de escape o navio fez água;

( me deixe ir...


amor! Ah! Não tragas mais as ondas do verão

teus braços na enseada não oferecem porto;

num trago de cigarro virei névoa fria; e os olhares

vis são como os punhais, que quebram todos vidros

das vãs escotilhas e rasgam anteparas de todos

( conveses.

se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir...


mesmo se a primavera revolver o sangue

em buganvílias hemorrágicas sobre os muros dos jardins,

a flor continuará a ser mera ferida.


no mar não há raízes, cabelos, cicatrizes nem as ilhas

que o oceano quis isolar dos homens e do mundo.

se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir


o outono está distante e é uma angra de montanhas

que demora e exige demais para quem deseja partir

agora, sozinho, sem levar ninguém a nenhum

( naufrágio.

se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir


nas quatro latitudes encontrarei jazigo, me deixe ir...


Em tempo: Sidney Mattos ( meu parceiro num samba e irmão-amigo), junto com Augusto Magalhães, falecido nos anos oitenta do século xx de morte natural, um dia fizeram a música que começava com o verso Se acaso a ventania me quiser levar..., letra e música se perderam no esquecimento...

Nenhum comentário:

Postar um comentário