Enquanto houver lágrimas
nos olhos abusados da inocência,
nem tudo estará perdido.

Este blog é dos irmãos Alberto Daflon,filho e Fabio Daflon. Um livro escrito a quatro mãos que dá nome ao blog. Seguimos a concepção de que uma poesia tem três fontes: o intelecto, o gosto e o senso comum, se o intelecto busca a verdade e o senso comum a moral, o que importa ao poema é o gosto; quanto ao intelecto e ao senso moral esses podem concorrer para o maior valor do poema, mas serão no máximo coadjuvantes relativos. O que há de essência no poema é ser belo.
MAR IGNÓBIL

LIVRO LANÇADO EM 2010
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
domingo, 12 de setembro de 2010
Perdido
Desespero cobre a tua espera
Esfera que gira sem andar
No mesmo lugar, mesmos dilemas
Exorcizar demônios que adoçam desencontros
Modificar o ser em sofrimento
No momento é único caminho
E combalidos de tantos desacertos
Estendidos na febre que consome
A vida que unidos percorremos
Buscar espaço entre os espaços
Passo a passo com carinho
Hesitante caminho sem a certeza
Busco o tempo da delicadeza
Que perdido no passado construído
Doído de atitudes mal formadas
Alberto Daflon
Esfera que gira sem andar
No mesmo lugar, mesmos dilemas
Exorcizar demônios que adoçam desencontros
Modificar o ser em sofrimento
No momento é único caminho
E combalidos de tantos desacertos
Estendidos na febre que consome
A vida que unidos percorremos
Buscar espaço entre os espaços
Passo a passo com carinho
Hesitante caminho sem a certeza
Busco o tempo da delicadeza
Que perdido no passado construído
Doído de atitudes mal formadas
Alberto Daflon
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Ventania ou Canto do jovem suicida
Se acaso a ventania me quiser levar;
(me deixe ir
na manhã de inverno, na bruma da noite fria;
(me deixe ir...
meu corpo anda gelado como mar antártico
para ser tragado pela ventania; me deixe ir...
antes que a ventania traga novas caravelas;
( me deixe ir...
em válvulas de escape o navio fez água;
( me deixe ir...
amor! Ah! Não tragas mais as ondas do verão
teus braços na enseada não oferecem porto;
num trago de cigarro virei névoa fria; e os olhares
vis são como os punhais, que quebram todos vidros
das vãs escotilhas e rasgam anteparas de todos
( conveses.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir...
mesmo se a primavera revolver o sangue
em buganvílias hemorrágicas sobre os muros dos jardins,
a flor continuará a ser mera ferida.
no mar não há raízes, cabelos, cicatrizes nem as ilhas
que o oceano quis isolar dos homens e do mundo.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir
o outono está distante e é uma angra de montanhas
que demora e exige demais para quem deseja partir
agora, sozinho, sem levar ninguém a nenhum
( naufrágio.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir
nas quatro latitudes encontrarei jazigo, me deixe ir...
Em tempo: Sidney Mattos ( meu parceiro num samba e irmão-amigo), junto com Augusto Magalhães, falecido nos anos oitenta do século xx de morte natural, um dia fizeram a música que começava com o verso Se acaso a ventania me quiser levar..., letra e música se perderam no esquecimento...
(me deixe ir
na manhã de inverno, na bruma da noite fria;
(me deixe ir...
meu corpo anda gelado como mar antártico
para ser tragado pela ventania; me deixe ir...
antes que a ventania traga novas caravelas;
( me deixe ir...
em válvulas de escape o navio fez água;
( me deixe ir...
amor! Ah! Não tragas mais as ondas do verão
teus braços na enseada não oferecem porto;
num trago de cigarro virei névoa fria; e os olhares
vis são como os punhais, que quebram todos vidros
das vãs escotilhas e rasgam anteparas de todos
( conveses.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir...
mesmo se a primavera revolver o sangue
em buganvílias hemorrágicas sobre os muros dos jardins,
a flor continuará a ser mera ferida.
no mar não há raízes, cabelos, cicatrizes nem as ilhas
que o oceano quis isolar dos homens e do mundo.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir
o outono está distante e é uma angra de montanhas
que demora e exige demais para quem deseja partir
agora, sozinho, sem levar ninguém a nenhum
( naufrágio.
se acaso a ventania me quiser levar, me deixe ir
nas quatro latitudes encontrarei jazigo, me deixe ir...
Em tempo: Sidney Mattos ( meu parceiro num samba e irmão-amigo), junto com Augusto Magalhães, falecido nos anos oitenta do século xx de morte natural, um dia fizeram a música que começava com o verso Se acaso a ventania me quiser levar..., letra e música se perderam no esquecimento...
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Pé na roça
______________________________________para Cantilde
Vi luz antes de agosto de 1954,
menino com pé na roça,
não fui menino de engenho,
fui um guri suburbano,
crescido no Rocha e na Tijuca;
- mas o avô fazendeiro,
trazia um passado distante
de nascido em 1870, e de
ser representante do velho
pensamento liberal republicano -;
roça e cidade eram meus lugares,
em mim os paralelepípedos
das ruas e as picadas dos matos
eram caminhos que me acompahavam,
como cheiro do curral e o mau
cheiro da merenda da escola;
Cantilde, a negra azeviche de coque,
cozinhava no fogão a lenha
as carnes de porco, gado ou galinha,
e a cocção era lenta como
nunca era rápido o almoço resultante:
as verduras e os legumes
vinham da horta quase à soleira da casa,
do chiqueiro tudo se aproveitava
do porco, e as banhas fritavam ovo.
a couve nas mãos de Cantilde
eram cortadas por micrótomo,
e os fios da verdura lembravam
amontoados de algas verdes,
suaves e tão macias de derreter
na saliva, sem o esforço dos dentes.
Meu avô morreu em 1964,
aos noventa e quatro anos,
quando contavam dois lustros
os tempos dos meus desenganos.
Cantilde também viveu muito,
fez tanto fubá com colher de pau,
tanto biscoito de polvilho,
deu tanta prova a moleque faminto,
que nas refeições a relembro
mexendo angu quentinho na panela,
sobre o qual meu coração se aquece,
alimentando a lembrança do tempo
feliz ao longo do casarão largo
da minha infância e fase pueril,
que passaram e sempre passarão como
continua a passar o longo curso daquele rio,
ao fundo do pomar, onde se erguiam
as palmeiras que viram meu pai crescer,
que eram quatro, hoje são só três,
porque uma caiu antes de um agosto,
mas não quero me lembrar de quando
Cantilde passou a cozinhar nas estrelas.
hoje já contam onze lustros o tempo
dos meus desenganos; sou feliz
porque contemplado por um sossego no peito,
sempre penso no futuro com um
olhar no passado, e se estou desenganado,
no desencanto encontro o canto
real e forte que embala minha lira.
Vi luz antes de agosto de 1954,
menino com pé na roça,
não fui menino de engenho,
fui um guri suburbano,
crescido no Rocha e na Tijuca;
- mas o avô fazendeiro,
trazia um passado distante
de nascido em 1870, e de
ser representante do velho
pensamento liberal republicano -;
roça e cidade eram meus lugares,
em mim os paralelepípedos
das ruas e as picadas dos matos
eram caminhos que me acompahavam,
como cheiro do curral e o mau
cheiro da merenda da escola;
Cantilde, a negra azeviche de coque,
cozinhava no fogão a lenha
as carnes de porco, gado ou galinha,
e a cocção era lenta como
nunca era rápido o almoço resultante:
as verduras e os legumes
vinham da horta quase à soleira da casa,
do chiqueiro tudo se aproveitava
do porco, e as banhas fritavam ovo.
a couve nas mãos de Cantilde
eram cortadas por micrótomo,
e os fios da verdura lembravam
amontoados de algas verdes,
suaves e tão macias de derreter
na saliva, sem o esforço dos dentes.
Meu avô morreu em 1964,
aos noventa e quatro anos,
quando contavam dois lustros
os tempos dos meus desenganos.
Cantilde também viveu muito,
fez tanto fubá com colher de pau,
tanto biscoito de polvilho,
deu tanta prova a moleque faminto,
que nas refeições a relembro
mexendo angu quentinho na panela,
sobre o qual meu coração se aquece,
alimentando a lembrança do tempo
feliz ao longo do casarão largo
da minha infância e fase pueril,
que passaram e sempre passarão como
continua a passar o longo curso daquele rio,
ao fundo do pomar, onde se erguiam
as palmeiras que viram meu pai crescer,
que eram quatro, hoje são só três,
porque uma caiu antes de um agosto,
mas não quero me lembrar de quando
Cantilde passou a cozinhar nas estrelas.
hoje já contam onze lustros o tempo
dos meus desenganos; sou feliz
porque contemplado por um sossego no peito,
sempre penso no futuro com um
olhar no passado, e se estou desenganado,
no desencanto encontro o canto
real e forte que embala minha lira.
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