
Este blog é dos irmãos Alberto Daflon,filho e Fabio Daflon. Um livro escrito a quatro mãos que dá nome ao blog. Seguimos a concepção de que uma poesia tem três fontes: o intelecto, o gosto e o senso comum, se o intelecto busca a verdade e o senso comum a moral, o que importa ao poema é o gosto; quanto ao intelecto e ao senso moral esses podem concorrer para o maior valor do poema, mas serão no máximo coadjuvantes relativos. O que há de essência no poema é ser belo.
MAR IGNÓBIL

LIVRO LANÇADO EM 2010
sexta-feira, 30 de abril de 2010
O quinto elemento
senão água em Marte não existiria,
e como no oceanos e na terra sempre chove
isso é sinal dum quinto elemento
onde o abismo se alaga, onde o vento
que atiça ou apaga o fogo se move,
onde o oxigênio do ar o mesmo fogo consome.
Ar, fogo, terra e água cabem no espaço
mesmo se este for vácuo apenas,
poderá ser preenchido por um poema.
O quinto elemento é o infinito espaço
aonde vai o gesto delicado e o rude,
onde o amor é o enlevo da dança
e o gozo é fora de ritmo como terremoto.
O espaço onde a paixão urde sua trama
de fogueira ou ar duma superação completa,
onde o mar das águas poluídas é desejo
que deita na terra sobre verde grama
a moça, a bola, o atleta na hora da queda.
O espaço das minhas distâncias e solidão
é onde a perna cansa, a aeronave levanta
voo, o carro leva o velho para o hospital,
é onde somos substituídos no fim da vida
pelos que deixamos ou só conhecemos
na profunda carne, transcendente infinito.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
DESEJOS
não chegou,
nem chegará.
A menarca esperada,
só chegou
para incomodar.
O primeiro namorado,
só causou
decepção.
Seus desejos
incontidos,
chegaram sem parar.
Decepção
por toda
a vida,
só
a fizeram
Chorar.
Mas viver
sem desejar,
é caminhar
e não chegar.
Alberto Daflon
domingo, 11 de abril de 2010
Judô
Justo naquele dia começara o horário de verão, talvez por isso o atraso de Evaristo. Trabalhávamos no mesmo hospital há um ano, nossos filhos tinham a mesma idade. Por contingências profissionais mudara para Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, a fim de ficar perto do Hospital onde possuía cotas. Éramos sócios. Adiantar uma hora do relógio e ainda aturar atraso é dose. Antes morava em Copacabana, ainda frequentava o Leme Tênis Clube. O combinado era ir à piscina e depois almoçar por lá. Mas Evaristo só chegou depois das dez horas. Está tarde, disse, sem desculpar-se, Copacabana fica muito longe, que tal irmos para Barra de Guaratiba? Olhei para minha mulher. Estava impaciente. Está bem, vamos logo então. Pode ser no meu carro? Pode. Marieta sentou atrás com as crianças. Evaristo ligou o ar e pôs som na caixa. Relaxamos. O trânsito ajudou, chegamos rápido. Está vendo lá embaixo é a Prainha. Lugar lindo. Faixa estreita de areia entre dois rochedos. Escadaria para descer do bar até à praia. Bom serviço de garçom. Pedimos duas caipirinhas e patinhas de caranguejo. Marieta, Coca Light. Guaraná para as crianças. Fascinada pelo mar Julinha não me deixou beber a caipira inteira. Comi só duas patinhas. Pai, vamos para praia? Já, já, espera um pouco. Comi mais uma patinha. Felipe não quis descer comigo, preferiu ficar com o pai. Evaristo se divorciara da mulher, o guri andava apegado. A Prainha é mar aberto. Apenas uns gatos pingados estavam na areia. Caminhei pela areia fofa. Senti piso duro e úmido sob meus pés. Hesitei em seguir
caipirinha e disse Evaristo vamos para casa.